Por Rebeca Brito
Como expliquei na descrição, esse blog foi criado para ser submetido a avaliação da disciplina Narrativas Africanas de Língua Portuguesa. Essa última avaliação precisa cumprir alguns requisitos, entre eles, a discussão de um capítulo de uma das últimas partes do romance “A Geração da Utopia” do escritor Pepetela.
Em tempo, para aqueles que ainda não leram o romance, eis a sinopse:
“A Geração da Utopia é o retrato sofrido dos angolanos que sonharam edificar a epopeia das lutas pela independência mas que logo se frustraram com a guerra civil que a sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornaram o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um país novo.”
Eu escolhi para minha discussão justamente o último capítulo do livro, talvez por ter ficado tão intrigada com o fim do romance. O capítulo ao qual me refiro mostra como se deu o primeiro culto da Igreja da Esperança e Alegria do Dominus.
Pensei em várias possibilidades para entender o final do romance. A última que me recorreu é que diante de tantos problemas e tantas situações complicadas, a fé em algo superior é o que ameniza o sofrimento. Mas tenho dúvidas se Pepetela terminou dessa forma para simplesmente possibilitar um "final feliz" para o povo angolano. Então, essa questão discussão não termina, pois existem sempre outros pontos de vistas para analisar a mesma cena.
O Dominus, desde a sua divulgação, bem como a quantidade de fiéis que foram arrebatados, além da maneira pela qual ocorreu o culto, se assemelha muito as igrejas protestantes e neopentecostais no Brasil, o que torna a comparação inevitável, pois a
descrição desse culto poderia ser exatamente aqui no país. Aliás, é impressionante a quantidade de cenas descritas ao longo do romance que poderíamos dizer tranquilamente que se passam no Brasil.
Angola pode ser aqui, o Brasil pode ser lá. Acredito ser possível reduzir esse distanciamento que existe entre nós brasileiros e os povos do continente africano. Em geral sabemos de forma tão reduzida sobre a África e é evidente que devemos conhecer a história dos nossos ancestrais africanos. Ao procurar esse saber, devemos não apenas nos situarmos no passado, mas conhecermos também a história contemporânea: o cotidiano, a economia, a produção científica e literária, as culturas, os valores etc..
É difícil descolonizar nossas mentes quando aprendemos durante anos de forma equivocada a história africana. Boaventura Souza Santos, em seu texto Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social, questiona se o que nós aprendemos vale o que desaprendemos ou esquecemos. Realmente é um grande desafio aprender outras coisas sem esquecer nossos conhecimentos próprios.
Entretanto, precisamos encarar esse desafio e despertar o interesse sobre a história do nosso povo. Precisamos, por exemplo, atribuir a África o mesmo grau de importância que damos a Europa e aos Estados Unidos.
É um desafio grande para nós brasileiros, pois precisamos aprender aquilo que não nos foi contado, ou que propositalmente nos fizeram esquecer. Qual a melhor maneira de modificar essa lógica ainda é algo a se pensar.